quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Cabeça inchada - Última postagem do Diário de Bordo


 Foi-nos proposto escrever algumas linhas sobre o conteúdo de todo esse último ano no curso de Redação Publicitária. Aprendi aos montes; de doer a cabeça! Muni-me de referências que, nem de longe, se tornaram um fado demasiado grosso e pesado para as minhas costas (talvez o fora as minhas córneas). Até o ano passado falava de mim como um leitor parco, pouco lido em obras fúteis, versado menos nos mestres da arte do discurso do que nos autores de cabeceira e autoajuda.  Gostaria de, desde aqui, nessas humilíssimas linhas agradecê-los: caros professores, obrigado por esse ano abençoado! Sinto-me outro Thiago Jorge! Leitor inconteste, defensor da retórica, amante dos livros, do teatro, da pintura e um hipocondríaco de marca maior, marca maior!
            Gostaria de pedir, na verdade evocar (a lá Camões), os mestres Edgard Alan Poe e Nelson Rodrigues¹ para me auxiliarem. De um eu gostaria da perspicácia, de outro a poesia invisível da realidade humana. É claro que por cá não tencionamos escrever como estes, mas, como em todas as vezes, que eles possam, de onde quer que estejam, nos ajudar.
            Em Redação Publicitária começamos pelo início; do título. Aprendemos que o título é um grito e que ele conversa com o texto, pois, precisa ser contextualizado e é justamente aqui que solicitamos a ajuda de Mr. Poe; um texto publicitário visa persuadir. Só os homens munidos da capacidade de observação, que sabem interagir com os detalhes, mesmo aqueles mais simples e menos perceptíveis, podem compreender o real sentido de um texto publicitário. Redatores são detetives, psicólogos, poetas, musicistas. Os redatores leem tudo, ouvem tudo, veem tudo! Trata-se de uma real sucessão de ideias: o consumidor é assim e assado (e o assado é justamente o suprassumo da propaganda), e por isso os textos propagados, por vezes gritados, serão verdadeiras xilogravuras de seus futuros destinatários Porque o texto quer, de forma sorrateira e minuciosa, pertencer ao cotidiano do consumidor, sempre de forma positiva, alegre, palpável e dinâmica. Um redator é um August Dupin² da vida real. Sabe observar as frestas e delas fazer verdadeiros portais, porque tem ciência que a grande ideia reside nos sinais mais inexpressíveis.
            E com Aristóteles aprendemos a discursar e a ordenar as fases do texto, afinal se temos uma introdução a um dado assunto, é necessário desenvolvê-la com convincentes (e verdadeiros, por favor!) argumentos. Depois uma peroração (Gran Finale!) pra meter de vez na cabeça do consumidor e dar aquela sacramentada final. Antes de mais nada, ele deve, digo e repito em alto e bom som, DEVE comprar uma Coca-Cola, ou uma Pepsi, ou arame farpado!
            Lembrei-me da história do Juca, um valentão lá do Tucuruvi. Desconfiado que era fortemente corneado pela nova namorada, passou a despejar indiretas e mais indiretas pelo facebook a fim de fazer com que ela ou meliante ricardão se intimidasse, afinal era Juca desses rapazes de largos rompantes, alguns diziam até grosseiros. Sua medida chegou a dar certo. A pequena ficou um tanto menos petulante e evasiva. Aquiescia sempre a vontade do Juca e nunca mais, o que era o grande fator de desconfiança dele, atrasou na saída do colégio. O Juca sempre ia buscá-la. Mas, como sabemos, as coisas pelas redes sociais ocorrem de forma não presencial e  o que na realidade acontecia era que os micro textos de Juca foram mal interpretadíssimos, e não haveria de ser de outra forma. Certa vez ele escreveu: “Traição é traição, romance é romance, amor é amor e um lance é um lance!” O intuito era mostrar a Carminha que ele estava de olho, que estava sabendo de como as coisas funcionavam. E o que houve foi que Carminha entendeu que o Juca era tão promíscua quanto ela.
            - Chumbo trocado não dói! Era o que ela dizia.
            O que aconteceu foi um inevitável término, Carminha o mandou passear e ele, possesso, passou a proferir impropérios despauterados pelas redes sociais o que o fez ser ainda mais temido pelos lados virtuais do Tucuruvi!
Essa história serviu para... nada. Na verdade, era pra ser uma metáfora sobre a importância da boa expressão. Ser redator é incrível e difícil!

1.Edgar Alan Poe, contista e romancista norte-americano do início do século XIX. Nelson Rodrigues, contista, poeta, dramaturgo brasileiro, falecido na década de 1980.
2.August Dupin, personagem do conto “Assassinatos na rua Morgue” de Edgar Alan Poe, trata-se de uma pessoa de uma exímia capacidade de observação.

Ps. Quero muito agradecer ao professor Rubens pela paciência, pela dedicação, pelo incentivo e pelas ótimas aulas sem as quais esse ano perderia muito! Muito obrigado!