quarta-feira, 13 de junho de 2012

Série Caderno de Estudos: Dialética do Esclarecimento, de Adorno e Horkheimer – Parte I. Do tradutor, Guido Antônio de Almeida (UFRJ).


Em primeiro lugar, a NOTA PRELIMINAR DO TRADUTOR, que precede o prefácio e o conteúdo da obra em si, quer denotar não apenas a opção de escolha mais cabível de tradução da palavra Alfklarüng por esclarecimento. Elas são correspondentes.
            ESCLARECIMENTO nos remete ao Iluminismo ou Época/ Filosofia das Luzes. Traduz em si mesma, portanto, um conceito histórico-filosófico – as trevas da ignorância e do preconceito (religioso, político, sexual, etc...) são vencidas pelo ESCLARECER das coisas.
            O tradutor nos chama a atenção, ainda, pelos trabalhos que vinham sendo realizados em cima desse conceito histórico filosófico da palavra esclarecimento. Em Kant, num texto seu célebre por sinal, esclarecimento é “um processo de emancipação intelectual resultando, de um lado, da superação da ignorância e da preguiça de pensar por conta própria e, de outro lado, da crítica das prevenções inculcadas nos intelectualmente menores por seus maiores”. Calhou com o objetivo de estudo de Adorno e Horkheimer, que pretendem com esse termo designar o processo de “desencantamento do mundo”. As pessoas, “amedrontadas diante de uma natureza desconhecida”, recorrem a ignorância face a tal natureza, cercam-se numa zona de conforto, livram-se de esmiuçar o “veredicto da verdade” e empregam-se a si mesmas uma “treva branca”, do qual nos fala José Saramago em Ensaio sobre a Cegueira, necessária para o embrutecimento e mecanização do pensamento.
            O esclarecimento de que tratam difere nesse sentido do Iluminismo, que remonta a um período e escola determinada da história. O esclarecimento é esse processo de desmitologização por excelência que encontra na ci~encia e na filosofia as suas bases e o seu prosseguimento.
            No entanto, este termo tem origem no próprio mito. A mitologização do esclarecimento – o homem que vai de encontro ao conhecimento dos processos de ler e dominar a natureza e, assim, acaba se naturalizando. E isso esbarra no processo civilizatório do homem.
            Para terminar e ratificar a escolha de Esclarecimento para o que Kant, Adorno e Horkheimer conceituaram, o tradutor traça um paralelo: Iluminismo não poderia ser, pois este é o termo conotado pela iluminação mística, a Luz Divina, e queremos fugir disso. Ilustração requer instruir-se por meio do estudo e da leitura; Esclarecimento é o resultado da REFLEXÃO e da CRÍTICA. 

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