sábado, 29 de dezembro de 2012

Noite de Natal


Certa vez, numa chuvosa noite de Natal eu me entristeci. Eu sabia que uma pessoa muito próxima de mim usava drogas; pó. Ouvia os burburinhos das pessoas. De todas as manifestações vocais, são as palavras murmuradas as que mais devemos temer, elas agem sorrateiras e, por vezes, se camuflam, soam farfalhadas como se estivessem a querer se impregnar, meticulosamente, nos cenários das nossas vazias existências e assim, como um corpo estranho no organismo, nos corroem as vísceras.
Eu compreendi o que diziam duas pessoas que se encontravam em minha casa naquela noite de Natal. Diziam não, murmuravam. “Veja, ele busca as drogas numa dessas favelas, não sei se no Morro do Piolho, ou na Serra Pelada.” “Psiu, fale mais baixo, acho que a família ainda não sabe...” “ Deixe de falsas ingenuidades, claro que sabem. No mínimo, diante de tal situação, emudecem-se.” “Cínicos, deveriam conversar, mostrar-lhe a realidade desse caminho, nunca deixaria que um familiar meu adentra-se por tão obscuras veredas.” “Deixa de tolice, ele desde sempre foi um renegado, as regalias foram sempre destinadas ao mais novo...” “Dizem-se cristão, ainda!? Despautério, despautério!!!” “Deixemos de lado esse papo, veja como o garoto nos observa, disfarce. Vamos perguntar se têm mais cerveja, esse pernil está uma delícia, foi muito bem temperado!” “No mínimo deixaram curtindo no tempero desde o dia anterior, como é a praxe. Vamos comer outro pedaço!”
Eles tinham razão, nós sabíamos. Mas não só calávamos como também vendávamos os olhos e tapávamos os ouvidos. Talvez a isso chamam hipocrisia. Acreditar que estão bem as coisas, que estão bem as pessoas, que estamos bem quando, na verdade, as palavras ao nosso redor vão se carregando em murmúrios, em farfalhos. Os acenos vagos e olhares imprecisos vão-se nos acometendo de todos os cantos. As formalidades frígidas não passam de “Oi, como está? Que linda noite de Natal, não? Parabéns pelo pernil, estava ótimo. E as cervejas geladas até o ponto certo!” Estes são pequenos sinais de que nem tudo anda bem, que entre o céu e a terra sabe-se de mais coisas do que nos é permitido saber.
Vi quando a minha pessoa próxima saiu, desceu as escadas, cumprimentou na rua pessoas que eu não conhecia, perguntou-lhes se era agora, se não poderia ser mais tarde, os outros disseram que não, que queriam e queriam agora. E então foram. Serviu-me de acalento na hora, mas não me serve agora: foram e foram felizes. Certos de que algo bom, prazeroso, estaria por vir.
Voltei para dentro de casa. A noite era fria, mas em casa estava morno. Meus familiares, amigos e conhecidos comiam e bebiam, alheios a tudo. Aliás, cientes de tudo, mas as aparências são os mais fortes escudos. Vestimo-las todos os dias. Travamos bons diálogos. Casuais e efêmeros. Tomamos um ônibus, trabalhamos, prestamos serviços, vendemos coisas. Lemos, sentamos e conversamos mais. E em tudo isso, ela sempre está lá, como uma herança maldita, um traço hereditário. As aparências: cálidas, amenas, brilhantes, ternas, simpáticas...
Entrei no banheiro, olhei-me. Pareceu-me que os olhos estavam cavados. Vi-me com o rosto toscamente marcado, uma cicatriz enorme na face esquerda, uma boca de lábios gretados, umas sobrancelhas quase inexistentes, uns ralos fios grossos no queixo. Levei as mãos ao rosto como se quisesse comprovar o espetáculo aterrador e percebi que minhas mãos estavam enrugadas, repletas de nós, as unhas amarelecidas. Meus olhos estavam injetados. Via-me velho, era como se eu estivesse diante da eternidade. É este o aspecto da eternidade, encanecido. A eternidade é um corpo pesado, amarelo, de cheiro forte. A eternidade é crua e viscosa, tem o firme propósito de acabar, mas existe uma força que a impele a permanecer num constante estado de putrefação.
Sim, usamos drogas. Sim, somos todos hipócritas!
Quando deixei de mirar o espelho, passada a vertigem da eternidade, vesti-me de renovadas aparências e fui comer mais pernil.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Hipocrisia por um hipócrita


Não é de todo tola a alcunha destinada ao dicionário de Pai dos Burros. Existe, de forma clara, a semelhança de comportamento entre a intransigência desse animal quando empaca e dos seres humanos quando não se convencem por si mesmos das próprias convicções. Não se mostra necessário consultar ao Oráculo da nossa ignorância, por exemplo, o significado (e é incrível como o significado das coisas tomam dimensões hiperbolizadas quando o objeto da significação nos é introduzido, doloridamente, pelo reto!) da palavra hipocrisia. Ora, claro está o que comumente queremos chamar de hipocrisia, é só nos tornarmos cegos. Mas não uma cegueira escura, aquela branca onde parecemos ser náufragos num mar de leite. Um exemplo de hipocrisia é o altruísmo e idoneidades humanas. Somos a ideia que temos de nós mesmos, acreditamos nas coisas que criamos e acabamos por sermos domados por elas. Mais um reles e ínfimo demonstrativo da nossa mísera condição.
            Imaginemos se oitenta por cento da população votasse em branco em eleições diretas. Não deixariam de exercer dentro das normas cívicas o seu direito enquanto cidadãos, mas como poderíamos chamar a tal fenômeno? Talvez anarquia, talvez motim, talvez desprezo ou displicência, revolução, inapetência, amoral, infâmia, despautério, democrático, antidemocrático, infâmia... Poderíamos nomeá-lo conforme a nossa própria doutrinação. E doutrina, nada mais é que fetiche, porque nos gratifica e calam as nossas necessidades, sejam elas de ordem sexual ou racional ( o que não deixa de ser sexual também!).
            Este hipócrita que vos fala vê que, em entrelinhas, até os incrédulos clamam aos deuses pelo alvejar de suas próprias máculas. 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Construção do psiquê de um personagens em Suicídios Exemplares, de Enrique Vila Matas


Eu prefiro ler romances. São bojudos, lineares. Há quem prefira o conto. Eu também gosto de contos. Por esses dias deparei-me com “Suicídios Exemplares” de Vila Matas, autor espanhol. E gostei muito do que li. Existe em mim, e sobre isso já deixei um texto inteiro para dissecar o porquê, uma forte inclinação ao existencialismo, à náusea aparentemente refreada pela ideia que temos de quem somos por essa vida rarefeita, impressa aos borrões frígidos do estúpido. Do tesão, do prazer, da magnanimidade da vida não consigo dizer o contrário: são aparências.
            Mas, quero dizer do Vila Matas e seus personagens suicidas. Existe um misto de Borges e Sabato nos seus contos: um clima que devaneia entre o prosaico e o fatídico, entre a fantasia e a sua abstinência. Gosto de ler a literatura e enxergar a veia artística do escritor, perceber os meandros por qual adentram os seus raciocínios, destrinchar as alegorias e metáforas que criam seus enredos. E venho dizer, em alto e claro som, que seus contos são sim, de cunho existencialista. Salve Sartre! A linearidade aqui tem nome: fracasso. O ato de se suicidar é posto em evidência, como um elemento etéreo, revigorante, ideológico e, até mesmo, como representação de arte. As personagens, fracassadas, descongestionadas de interjeições, inferiorizadas pela vida, veem na morte um ato de liberdade, o único realmente livre. O suicídio é a negação do imperativo “viver”, é o lado sólido da vida.
            Quem gosta mesmo de literatura, se deliciará com os trâmites do autor em pintar a psique de suas personagens que caminha por referências inúmeras, até mesmo referências inexistentes.
            Não é uma apologia ao suicídio, trata-se de uma canção melancólica sobre a opressão de ter que viver!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

À Sabato


Não foi por acaso que me deparei com o romance “O túnel” do argentino Ernesto Sabato. Eu precisava de algo em que respaldar a minha vida, em que embasá-la. Após os primeiros capítulos forjou-se em fogo na minha alma a pergunta “E eu, sou um túnel também?”.
            Trata-se de um romance sólido, de uma única grande metáfora: o existencialismo. Diante da perenidade da vida, o enredo, ou melhor, a trama mostra-nos que em analogia à isso as pessoas e os acontecimentos que se apresentam, mesmo os nossos próprios pensamentos e raciocínios, são fugazes, são vagos, difíceis de se delinear, de empregar forma.
            Mas, não foi propriamente o romance deste mestre argentino que me impulsionou a escrever este texto. Talvez o tenha me engendrado a própria existência. A minha ideia fixa (já não consigo mais chamar aos meus objetivos de ‘sonho’) é ser um escritor. Ser um escritor é a minha ideia fixa, aquilo com o qual eu norteio os meus raciocínios quando a minha cabeça parece ser um inferno, repleto de labaredas praguejantes, ardentes, momentâneas, perdidas, facilmente substituídas. Pensamentos impenetráveis aos outros. Minha personalidade se molda com uma facilidade que espanta até a mim mesmo. São regidas por esses momentos de pura lógica fantasiosa. Sim, sou um túnel como Juan Pablo, a personagem central do romance de Sabato que, com uma habilidade de desconcertante clareza, nos abriu todas as possibilidades de desenvolver o caráter psicológico de uma personagem. Fez-me entender, de forma ridiculamente simples, a obra de Sartre, ou talvez seja melhor dizer, a ideia fixa de Sartre!
            Deus, tenho lido tantos bons livros! Ótimos livros! Capazes de alegrar qualquer espírito. Mas me apego a obras obscuras, de personagens solitários, que vivem sua solidão em meio ao asco das outras existências; as ultrajantes existências da frivolidade e da fealdade hipócritas dos seres humanos.
            Acho melhor parar por aqui. Vou deixar de me esclarecer essas coisas, porque assim, o máximo que consigo é obscurecer as ideias dos poucos leitores deste blog. Aliás, começo a ter nojo deste blog. É fruto da minha fealdade. Deus, não quero ter nojo da minha ideia fixa... Mas, talvez seja necessário, seja o certo a fazer. O nojo é um sentimento, o asco é o mais belo sentimento que um ser humano possa vir a ter. O asco é um grande símbolo, sabiam? Quando você sente asco das suas atitudes, dos seus trejeitos, das suas decisões, do seu estado de vida, você passa a ser uma pessoa melhor. Sim, claro está. Uma pessoa boa e sem vaidades. É como ser frígido, quando a excitação não aflora. A verdade é terrível, é tenebrosa! Como é ruim ser sábio nos dias de hoje, ter a ciência de que viver em meio a multidões requererá de você uma adesão à sua própria sabedoria é uma ideia assustadora, aterradora, exasperante! É impossível ler tantos livros e viver dignamente. Como o conseguiram tantos e tantos autores? Como puderam viver tanto tempo, como conseguiram se sociabilizar?
            Esse é o grande fado: o túnel!
            Obrigado Ernesto Sabato!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Cabeça inchada - Última postagem do Diário de Bordo


 Foi-nos proposto escrever algumas linhas sobre o conteúdo de todo esse último ano no curso de Redação Publicitária. Aprendi aos montes; de doer a cabeça! Muni-me de referências que, nem de longe, se tornaram um fado demasiado grosso e pesado para as minhas costas (talvez o fora as minhas córneas). Até o ano passado falava de mim como um leitor parco, pouco lido em obras fúteis, versado menos nos mestres da arte do discurso do que nos autores de cabeceira e autoajuda.  Gostaria de, desde aqui, nessas humilíssimas linhas agradecê-los: caros professores, obrigado por esse ano abençoado! Sinto-me outro Thiago Jorge! Leitor inconteste, defensor da retórica, amante dos livros, do teatro, da pintura e um hipocondríaco de marca maior, marca maior!
            Gostaria de pedir, na verdade evocar (a lá Camões), os mestres Edgard Alan Poe e Nelson Rodrigues¹ para me auxiliarem. De um eu gostaria da perspicácia, de outro a poesia invisível da realidade humana. É claro que por cá não tencionamos escrever como estes, mas, como em todas as vezes, que eles possam, de onde quer que estejam, nos ajudar.
            Em Redação Publicitária começamos pelo início; do título. Aprendemos que o título é um grito e que ele conversa com o texto, pois, precisa ser contextualizado e é justamente aqui que solicitamos a ajuda de Mr. Poe; um texto publicitário visa persuadir. Só os homens munidos da capacidade de observação, que sabem interagir com os detalhes, mesmo aqueles mais simples e menos perceptíveis, podem compreender o real sentido de um texto publicitário. Redatores são detetives, psicólogos, poetas, musicistas. Os redatores leem tudo, ouvem tudo, veem tudo! Trata-se de uma real sucessão de ideias: o consumidor é assim e assado (e o assado é justamente o suprassumo da propaganda), e por isso os textos propagados, por vezes gritados, serão verdadeiras xilogravuras de seus futuros destinatários Porque o texto quer, de forma sorrateira e minuciosa, pertencer ao cotidiano do consumidor, sempre de forma positiva, alegre, palpável e dinâmica. Um redator é um August Dupin² da vida real. Sabe observar as frestas e delas fazer verdadeiros portais, porque tem ciência que a grande ideia reside nos sinais mais inexpressíveis.
            E com Aristóteles aprendemos a discursar e a ordenar as fases do texto, afinal se temos uma introdução a um dado assunto, é necessário desenvolvê-la com convincentes (e verdadeiros, por favor!) argumentos. Depois uma peroração (Gran Finale!) pra meter de vez na cabeça do consumidor e dar aquela sacramentada final. Antes de mais nada, ele deve, digo e repito em alto e bom som, DEVE comprar uma Coca-Cola, ou uma Pepsi, ou arame farpado!
            Lembrei-me da história do Juca, um valentão lá do Tucuruvi. Desconfiado que era fortemente corneado pela nova namorada, passou a despejar indiretas e mais indiretas pelo facebook a fim de fazer com que ela ou meliante ricardão se intimidasse, afinal era Juca desses rapazes de largos rompantes, alguns diziam até grosseiros. Sua medida chegou a dar certo. A pequena ficou um tanto menos petulante e evasiva. Aquiescia sempre a vontade do Juca e nunca mais, o que era o grande fator de desconfiança dele, atrasou na saída do colégio. O Juca sempre ia buscá-la. Mas, como sabemos, as coisas pelas redes sociais ocorrem de forma não presencial e  o que na realidade acontecia era que os micro textos de Juca foram mal interpretadíssimos, e não haveria de ser de outra forma. Certa vez ele escreveu: “Traição é traição, romance é romance, amor é amor e um lance é um lance!” O intuito era mostrar a Carminha que ele estava de olho, que estava sabendo de como as coisas funcionavam. E o que houve foi que Carminha entendeu que o Juca era tão promíscua quanto ela.
            - Chumbo trocado não dói! Era o que ela dizia.
            O que aconteceu foi um inevitável término, Carminha o mandou passear e ele, possesso, passou a proferir impropérios despauterados pelas redes sociais o que o fez ser ainda mais temido pelos lados virtuais do Tucuruvi!
Essa história serviu para... nada. Na verdade, era pra ser uma metáfora sobre a importância da boa expressão. Ser redator é incrível e difícil!

1.Edgar Alan Poe, contista e romancista norte-americano do início do século XIX. Nelson Rodrigues, contista, poeta, dramaturgo brasileiro, falecido na década de 1980.
2.August Dupin, personagem do conto “Assassinatos na rua Morgue” de Edgar Alan Poe, trata-se de uma pessoa de uma exímia capacidade de observação.

Ps. Quero muito agradecer ao professor Rubens pela paciência, pela dedicação, pelo incentivo e pelas ótimas aulas sem as quais esse ano perderia muito! Muito obrigado!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Série Diário de Bordo. Atividade de preparação a prova – Enquanto jovens


Escolher uma profissão não é nada fácil. Enquanto jovens sempre acalentamos a ideia de sermos exímios profissionais, afamados, requisitados, endinheirados. Da escolha, ainda enquanto jovens, apontamos o dedo àquela profissão que se aproxima das nossas afinidades, aquela com a qual sentiremos imenso prazer em exercer, regozijaremos frente às intempéries e às noites em claro porque isso é ser louco pelo que se faz. Mas, enquanto jovens, a exaltação é o pulso. A verve do pulsar. O sem-vergonhismo de quem tem uma vida inteira a desbravar. A jovialidade é mesmo bela e forte! Mas e o brainstorm?!
            Olha, como estudante, nestas últimas aulas de redação publicitária, tenho sentido o peso futuro da responsabilidade. Entendemos que escrever um texto publicitário tem as suas regras (um forte abraço ao Aristóteles onde quer que ele esteja), mas a criação em conjunto é um percalço que tem me feito sentir um pouco as futuras agonias; é preciso viajar na maionese, sim! Somos redatores num mundo cada vez mais visual. O ambiente pós-moderno prima pela apresentação das coisas – é opulento! Queria eu, de verdade, ter vivido nos século XVIII ou XIX pra assinar os folhetins e ler as novelas-romances! Texto era tudo naquela época! As imagens serviam para representar algo, o conceito girava sempre em torno disso, afora a temática, ou os impressionistas (meus prediletos!); mas, definitivamente, a fonte para o desabrochar da  imaginação das moças reprimidas com uma vida de encantamentos fúlgidos (mesmo as adúlteras, como a célebre Madame Bovary) eram os romances, os Balzac’s, Sthendal’s, os Vitor Hugo’s – a literatura francesa é mesmo rica! O cinema ainda longe, o surrealismo ainda longe, o Freud ainda um pouco distante, o Duchamp também... os textos e o teatro embriagavam!
            Mas, estamos nós aqui, na era da informação a criar textos para vender produtos e para vender ideias; conceitos que nortearão a vida das pessoas, textos que tocaram o emocional, que farão rir, chorar. Na última aula de redação tivemos que criar um texto publicitário completo com chamada e assinatura, usando a estrutura aristotélica para o corpo textual (mais uma vez, cara, espero que, onde estiver, esteja feliz dialogando com Sócrates em sua maiêutica ou viajando na maionese no mundo das ideias de Platão!). Mas escrever em conjunto, com os colegas de agência tem sido complicadíssimo pra mim. Não vou negar que sou chato, que monopolizo algumas vezes, quero que apenas a minha ideia seja levada em consideração, mas o meu grupo é demais, rimos bastante. Acho que eu sou o chato da turma! Preciso trabalhar meu senso de trabalho em conjunto.
            A sexta-feira tava quente pra caramba! Tive meus quinze minutos de fama entre o pessoal da sala quando o professor disse que o Germano leu os textos de todo mundo e gostou do meu (até postou no perfil dele no Facebook!). Fiquei feliz demais! Demais mesmo! Motivação ao cubo pra escrever – o que dá pra se perceber aqui, né senhor Thiago, as quatro laudas já se perderam faz tempo!
            Mas,enquanto jovens, somos assim  mesmo, até lermos um pouco de Borges e um pouco de Saramago... e um pouco de Sartre! Pronto, caímos no vazio das centenas de milhares de informações nesse cenário sem nada de definido e palpável que é o pós modernismo e nada de grandes acontecimentos nas nossas vidas gasosas.
            Chega, né?

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Série Diário de Bordo: Jornada Cultural e palestra de Germano Pereira


          Hoje é quinta-feira e já se passaram três dias de Jornada Cultural na Faiter. Posso dizer, com uma certeza desconcertante, que tem sido melhor que a Semana de Comunicação do ano passado. A ideia, a organização, as palestras e workshopps foram pensadas muito bem. Pena tudo acontecer praticamente ao mesmo tempo!
            A palestra do Germano Pereira, na segunda-feira, muito me agradou! Muito por uma certa identificação: a angústia de escrever. Não que eu seja escritor, desses compulsivos, vorazes, que se desligam da galáxia e experimentam respirar em planetas “nunca dantes navegados”, como Vasco da Gama no Atlântico! Mas, justamente, pelo processo ler-escrever. Aqui uma coisa não se distingue da outra, se confundem, se misturam, se condensam e, no bojo das incansáveis leituras, na abundante pesquisa, na apaixonante viagem do conhecimento surge a necessidade, clara e manifesta - como uma pulsão freudiana no princípio do prazer -, de escrever, escrever, escrever. Germano, no seu palestrar, nos muniu de várias referências, justamente para poder assentar e embasar as suas próprias experiências e explicar os seus dilemas de escritor. Aconselhou-nos que, quando escrevêssemos, por favor, não parássemos; uma ideia é como luz de fogo produzido por madeira em brasa, é preciso se fazer madeira para não perder a luz desse fogo; escrever é se deixar arder; o insight é a consequência última da leitura abundante, desenfreada; o insight é fazer-se canal das suas próprias experiências...
            Hamlet-Bashô, peça adaptada por Germano, remonta muito bem esse processo. Trata-se de Hamlet em seu último momento, quando o fio preso às costas se desprende da vida. O rio de João Cabral de Melo Neto em Morte e Vida Severina se cristaliza e tudo o que passamos e experimentamos nos assoma à mente; e é nesse momento que a reflexão nos leva a ter uma segunda opção, a uma segunda decisão irrefreável que se desprende da realidade para, numa metafísica platônica se fazer ideal, perfeita. Escrever é estar nesse momento último da vida, numa adaptação da experiência adquirida.
            O Germano tem uma maneira de falar típica de ator, bem clara, comunicativa, expressiva... Gostaria de ter perguntado se o escritor de romances Germano, dentro desse processo de escrever, pára pra pensar no momento literário que vivemos, se se prende às características temáticas e estéticas dos escritores contemporâneos, ou se esses conceitos de escola literária já foram de todo esquecidos; se a Semana de Arte Moderna de 22 foi conclusiva no seu liberalismo às avessas; se não viveremos novos grandes momentos literários como um neorealismo ou um neossurrealismo ou qualquer outra nova onda de pensadores-poetas... mas, com medo de monopolizar esse momento de bate-papo com a galera, resolvi, em cima do que ele disse, me responder: “Leia, clame a ajuda de Buda, tenha um insight  e escreva, escreva, escreva... quem sabe...”?!

Série Diário de Bordo: Redação, aula do dia 24/08



Convencimento. O professor costuma dizer que publicitários não são artistas. As peças, os textos, as imagens, os filmes e toda sorte de material publicitário são produzidos à partir de conceitos e técnicas de comunicação aplicadas para se VENDER um produto ou serviço. No entanto, para isso, nos utilizamos da arte, nos esbarramos com ela, transformamo-las em ferramenta, em paradigma.  E nem só de arte vive um criativo, mas de valores éticos pertinentes aos vários perfis sociais.
            Bom, na sexta-feira passada, dia monótono e eufórico ao mesmo tempo (as sextas-feiras acadêmicas são incompreensíveis às vezes) o professor Rubens, um tanto quanto cambaleado após sofrer um acidente durante a semana (nada grave o suficiente para faltar ao compromisso) nos propôs um trabalho de classe que provou o quanto publicitários devem preocupar-se em estudar constantemente a sociedade, devem ser grandes analistas sociais. Deveríamos, no exercício, criar um texto que incitasse pais a levarem seus filhos e filhas ao teatro no Shopping Higienópolis. Até aí tudo bem, mas a peça, Equus, hermética e pesada, feria alguns valores sociais tabus – alguns atores em determinados atos, ou mesmo durante toda a peça, ficavam nus! Deu-se a discórdia no brainstorm do nosso grupo! Uns achavam que deveríamos focar no ator principal (um galãnzinho de Malhação), outros que deveríamos empregar um ar de mistério no texto e tratar apenas do contexto e dos temas propostos pela peça pra fazer pulsar a curiosidade das pessoas, outros ainda sugeriram escrever as frases iniciais do primeiro ato e terminasse o texto com  poderosas reticências...
            Acabamos não chegando a um acordo, o texto não ficou lá essas coisas, mas valeu o aprendizado.
            A sexta-feira tava quente; a ansiedade, velada. A Jornada Cultural vinha aí... talvez esteja lá no próximo post!

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Série Diário de Bordo: Slogan e haikai.


De colchão em colchão
chego à conclusão
meu lugar é no chão
(Paulo Leminsk)

            Inspiradora! Tentei procurar uma palavra um pouco menos faraônica para a última aula de redação publicitária, mas, por maiores que fossem meus despeitados esforços, me vi obrigado a dobrar os joelhos e ceder.
            Para melhor nos fazer entender sobre a força, não só semântica e rítmica, mas sensorial do slogan, o professor nos apresentou o haikai: pequenos conteúdos poéticos que ao menosprezar a força de significados acaba por nos garantir a sonoridade da sensação. Não poderia ser mais esclarecedor, um haikai comprimido é um slogan garantido! Bem assim, desse jeito!
            Sexta-feira continua sendo sexta; aquele dia arrastado, aquele dia crepuscular que nos faz perder o calor das atividades corriqueiras para ganharmos, como que por uma dose de analgésico, a luz nascente de mais um fim de sema que sempre vem acompanhado de um merecido descanso. Apesar disso, o dia era de calor e a ideia dos haikai’s espalhados pelas paredes deram um gás a mais na classe. Pelo menos na nossa agência houve acaloradas discussões sobre os slgan’s e temas que poderiam nascer de um pequeno punhado de palavras-pássaro!
            Engraçado é confundir um haikai com um cigarro, não sei se pela brevidade ou se pelo efeito acalentador de nervos...

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Diário de Bordo: Férias


         Findo o período de férias, mas não o nosso contrato com a morte, como diria mestre Saramago não sem poucas céticas intenções. O contrato irremediável com a morte continua vigente, sinal de que vigente também é continua a vida.
José Saramago e ‘As intermitências da Morte’, Mário Vargas Llosa e ‘Tia Júlia e o escrivinhador’ e Paulo Leminsk e ‘Jesus A. C.’ foram os meus companheiros nessas férias que, como se pode perceber, foram divertidas. Namorei bastante e comemorei um título inédito!
Nessas férias fui ao teatro, três vezes! Uma delas para prestigiar o professor Rubens em Hamlet-Machine no Teatro Escola Macunaíma, um retrato tão profundo quanto abstrato do que somos e fomos – e continuaremos a ser!
A nota triste fica por esses últimos dias. A gata Dora, meu bichinho de estimação sofreu um gravíssimo acidente e ainda, na data em que escrevo este texto, corre sérios riscos de vida. Esta família nunca teve um bichinho pra tanto se apegar como essa gatinha. Talvez pelas inúmeras traquinagens, ou pelas mais irreverentes demonstrações de carinho, ou por sei lá quais mais encantamentos um animalzinho limpo e inocente é capaz de nos gratificar, o fato é que, depois dela, não fomos mais os mesmos. Parece que zelar por um animalzinho te torna mais simplista, menos afeito a coisas. Li em algum lugar que o gato é único animal domesticado que te enxerga de cima pra baixo, neles nós podemos reafirmar a máxima popular, ainda que difícil seja nos dias de hoje, de que os olhos são espelhos d’alma. A prepotência humana se desfaz e nos enxergamos criatura perto de uma criatura como se, e aqui divergimos Saramago, a única explicação de tudo quanto existisse fosse etéreo e metafísico.
Fica aqui um pequenino rastro de tristeza, mas nem por isso menos esperançoso.
De tudo um pouco nessas férias!

terça-feira, 17 de julho de 2012

Existir


      De tudo quanto já li e estudei, o 'existencialismo', me parece, é a mais certa das teorias sobre o que pode ser tudo isso que somos e vivemos. E a mais perigosa. E a mais iminente. Estamos na beirada, vislumbramos o abismo, prestes a precipitar-nos no vazio pelo atrito da mais leve brisa. Esse abismo é uma náusea coletiva onde a razão seria a mais bela loucura, pois sorveríamos apenas a saliva áspera do concreto. Não esperaremos nada de coisa alguma e aceitaremos como fugaz e efêmero todo tipo de comemoração ou felicidade. Esta já não é mais um objetivo, mas uma droga, corruptora do estado natural de permanente vigília. Sim, permanente porque necessitaremos sempre apalpar as coisas e sentir sua existência. Nada de oráculos, seremos vazios demais e céticos demais. Já não existirão deuses para embriagar a sociedade, porque até mesmo a essa não se encontra sentido algum para existir. Nem a tantas fronteiras, nem a tantas burocracias, nem a nada; só a nós e às nossas molas propulsoras, daremos vazão as nossas angústias e saciaremos aos desejos mais recônditos. Aprimoraremos a sexualidade, porque nós queremos ser livres para transar, queremos ser livres para lançarmos-nos nos mais exagerados sodomitismos. O pecado é o grande objetivo. Morte ao preenchimento por essência. Queremos construir um habitat de acontecimentos. Ora, um acontecimento é algo difícil de obter; a existência, portanto é hermética, intricada. Requer que saibamos jogar o jogo, que entremos em seus campos e saibamos suas regras. Um acontecimento acontece por si mesmo, é dotado de personalidade. Mas, droga, são efêmeros! Para viver e ser livre é necessário fazer acontecer: acontecimentos em série (até mesmo oniscientemente)! Do contrário, seremos apenas isso que sentimos. Sentir. O que são os sentimentos perto do gozo?! Todas essas pulsões e complexos, precisamos fazer viver tudo isso! Sim, precisamos dar vida a tudo o que é reprimido. Chega de tudo o que é indefinido e vago!
Na beirada desse precipício precisaremos sentir constantes e tenros estampidos de fatos e concretudes, e gozo!
Não existe nada mais exuberante que um edifício. Edifícios têm razão de ser. E todas as casas de uma cidade e suas ruas de concreto. Nós passamos por tudo o que é cinza e duro, fazemo-nos acontecer e, em seguida, deixamos de viver aquele instante para pular para outro, e outro, e outro... Mas o edifício permanece rijo, bojudo, ostentador de sua existência que nos humilha.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Série Diário de Bordo: Aula de Revisão

   Este post vale 0,25 pontos a mais na média bimestral de Redação Publicitária. Trata-se do último post do bimestre, aliás, do semestre. A aula foi a revisão de todo o conteúdo apresentado nestes longuíssimos dois meses. E revisão, me parece, é sempre uma coisa vaga demais, como se folheássemos uma revista que já houvéssemos lido atenciosamente. Mas escrever este pequeno texto vai além.
   Neste bimestre não me comprometi o suficiente com as postagens do "diário de bordo". Difícil determinar uma razão. O professor encheu de realidade o nosso copo: "são apenas algumas linhas para serem escritas em uma semana". Me fez pensar na minha vida acadêmica e no quanto ela nos modifica, mais do que o próprio conteúdo aprendido. Os professores, mais do que mestres, fazem questão, pelo menos alguns, de nos encher o copo de ralidade. O Thiago que ingressou na Universidade o ano passado, não é o mesmo Thiago que escreve este texto agora, e provavelmente não será o mesmo ao terminá-lo, como se fosse feito de areia! 0,25 é o valor deste post.
   Por falar em areia, por esses dias li um conto do Jorge Luis Borges, "O outro", em que ele conta o dia em que encontrou a si mesmo mais jovem, sentado num banco à beira de um rio de não sei que lugar de Chicago, ou Nova Iorque. Era o Borges novo que conversava com o Borges velho e reviam suas predileções literárias e que se perguntavam sobre si mesmos e sobre seus familiares. Havia uma disparidade não só na leitura, mas na forma de enxergar a própria vida.
   Eu iniciei este texto querendo expor o quanto me sentia triste em não ter postado muita coisa no decorrer deste bimestre, mas terminei carregando o texto de incertezas. E talvez sejam as incertezas que todos os estudantes têm ao se perguntarem o quanto tudo isso vale a pena.
   Não sei se vale 0,25 pontos. Talvez valha apenas pra entender que, como nós, as aulas de revisão se parecem com areia.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Série Caderno de Estudos: Dialética do Esclarecimento, de Adorno e Horkheimer – Parte I. Do tradutor, Guido Antônio de Almeida (UFRJ).


Em primeiro lugar, a NOTA PRELIMINAR DO TRADUTOR, que precede o prefácio e o conteúdo da obra em si, quer denotar não apenas a opção de escolha mais cabível de tradução da palavra Alfklarüng por esclarecimento. Elas são correspondentes.
            ESCLARECIMENTO nos remete ao Iluminismo ou Época/ Filosofia das Luzes. Traduz em si mesma, portanto, um conceito histórico-filosófico – as trevas da ignorância e do preconceito (religioso, político, sexual, etc...) são vencidas pelo ESCLARECER das coisas.
            O tradutor nos chama a atenção, ainda, pelos trabalhos que vinham sendo realizados em cima desse conceito histórico filosófico da palavra esclarecimento. Em Kant, num texto seu célebre por sinal, esclarecimento é “um processo de emancipação intelectual resultando, de um lado, da superação da ignorância e da preguiça de pensar por conta própria e, de outro lado, da crítica das prevenções inculcadas nos intelectualmente menores por seus maiores”. Calhou com o objetivo de estudo de Adorno e Horkheimer, que pretendem com esse termo designar o processo de “desencantamento do mundo”. As pessoas, “amedrontadas diante de uma natureza desconhecida”, recorrem a ignorância face a tal natureza, cercam-se numa zona de conforto, livram-se de esmiuçar o “veredicto da verdade” e empregam-se a si mesmas uma “treva branca”, do qual nos fala José Saramago em Ensaio sobre a Cegueira, necessária para o embrutecimento e mecanização do pensamento.
            O esclarecimento de que tratam difere nesse sentido do Iluminismo, que remonta a um período e escola determinada da história. O esclarecimento é esse processo de desmitologização por excelência que encontra na ci~encia e na filosofia as suas bases e o seu prosseguimento.
            No entanto, este termo tem origem no próprio mito. A mitologização do esclarecimento – o homem que vai de encontro ao conhecimento dos processos de ler e dominar a natureza e, assim, acaba se naturalizando. E isso esbarra no processo civilizatório do homem.
            Para terminar e ratificar a escolha de Esclarecimento para o que Kant, Adorno e Horkheimer conceituaram, o tradutor traça um paralelo: Iluminismo não poderia ser, pois este é o termo conotado pela iluminação mística, a Luz Divina, e queremos fugir disso. Ilustração requer instruir-se por meio do estudo e da leitura; Esclarecimento é o resultado da REFLEXÃO e da CRÍTICA. 

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Série Diário de Bordo: Tempo

           A peça no Teatro Macunaíma da última sexta-feira, em noite gélida, dessas que emanam odores de início de inverno e fazem ressoar tétricos uivos de vento, me trouxe uma sensação de compatibilidade com o mundo. Esse mundo real que oprime a vida. Vida que tem como grande maestro o Tempo, uma criação humana, mas que nos é inerente mesmo. Desconsiderá-lo significa morrer.
            Os quatro atores, em atos independentes e que bordaram as angústias de nosso cotidiano, se tornaram no palco instrumentistas do maestro, senhor e ditador. Enquanto acompanhava a encenação de casais que se conheciam, casavam, separavam e voltavam; novas mulheres que se desdobravam em trabalhar e cuidar de si, relacionamentos amórficos (ou incompatíveis com o que se tem como forma e tradição); mulheres que se angustiavam e buscavam as soluções mais óbvias de se lutar contra o peso do tempo, da gravidade e do oxigênio; e et cétare, me ocorreu o poeta mal humorado, o poeta da morte e do tempo, o velho Drummond:

Cortar o tempo

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra
vontade de acreditar que daqui pra diante será diferente.

            Senti-me ainda mais parte desse mundo, um mero sopro de vida. Bicho que, depois de solto, percorre de forma açodada todos os cantos, cada milímetro de chão, incapaz de parar e esmiuçar as verdades efetivas da vida: o sorriso largo de uma criança, o cheiro morno do café recém passado, as gostosas linhas da narrativa de Érico Veríssimo...
            A noite era gelada e os pensamentos que me sobrevoavam a cabeça também.

***
No fim, houve um debate sobre processo criativo. Uma confluência de palavras que disseram mais do mesmo. Referências são vivências. Vívidas vicissitudes, pra terminar de forma bem redundante e nelsonorodriguiana...
Acho que falaram de Nelson Rodrigues no debate. Mas os pensamentos que me sobrevoavam a mente eram como instrumentistas anárquicos... perdido no tempo e espaço.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Série Veredas Poéticas - "Alma Minha Gentil", de Luis Vaz de Camões

A Idade Média nos remete a várias imagens. A aristocracia, as grandes embarcações, a Igreja, a Inquisição, os trajes (para nós, hoje, de grande excentricidade).
            Luis Vás de Camões é nome portentoso no que se refere à poesia de Língua Portuguesa. E foi nesse período de grandes ebulições na história da humanidade, a Idade Média, que ele viveu. Camões é mundialmente conhecido pela epopeia “Os Lusíadas”, que narra, de forma aventurosa, grandiosa e heróica a luta de Vasco da Gama contra o Oceano Atlântico.
            Sobre a vida de Camões pouco se sabe. Sabe-se que foi um exilado da Corte portuguesa e que viveu de forma, se não errante, um tanto quanto nômade. Combateu para o rei Dom João III na África e na Índia, o que foi documentado pelo próprio Camões em cartas e peças cômicas escritas sobre esse período de sua vida. Camões é o maior nome do Classicismo de Língua Portuguesa. Tal escola artística quer retomar valores clássicos, que primam pelo rigor à forma e colocam a figura do homem no centro de todas as coisas.
Luís Vaz de Camões vivia escrevendo seus sonetos (na métrica oriunda da Itália, grande novidade do Classicismo) e amando várias damas, na verdade todas.

            O soneto abaixo, na humilde opinião do autor destas linhas sem graça, é um dos mais emocionantes do poeta; carrega o lirismo típico de um dos maiores nomes, quiçá o maior, de nossa língua:

Alma minha gentil que te partiste,
Tão cedo dessa vida descontente.
Repousa lá no céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste

Se lá no acento etéreo onde subiste,
Memória desta vida se consente
Não te esqueças daquele amor ardente,
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te,
Alguma coisa a dor que me ficou
Da mágoa sem remédio de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que quão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

            Não se tem documentado, mesmo nas biografias mais antigas de Camões, a identidade de suas musas inspiradoras. Sabe-se que era homem espirituoso, bravo combatente, amigo fiel e um amante incorrigível.
            Também não se pode ter em conta que o cara “pegava geral”. Tá, o cara era bom, parecia ter jeito, era forte fisicamente, mas o gajo tinha um olho só, olho este vitimado num confronto em terras africanas.
            Duas coisas são notáveis no soneto classicista acima: versos decassílabos e as rimas no formato ABBA/ ABBA; CDC/ DCD. Camões é o grande nome da poesia portuguesa, seus sonetos e outros poemas (além de “Os Lusíadas”) foram traduzidas para muitas línguas.
            No soneto acima nota-se o platonismo no amor, o idealismo da relação com o belo; é ambígua a interpretação de que a personagem falecida, “se lá no acento etéreo onde subiste/ memória desta vida se consente”, tenha, realmente, sido amante do ‘eu lírico’. A religiosidade não é a tônica neste período artístico-literário. No entanto, o ‘eu lírico’ pede a intercessão do Senhor dos destinos do homem para elevar o seu amor  no âmbito etéreo, após a morte, numa espécie de negociata que já delineia um antropocentrismo latente.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Série Diário de Bordo - Palestra sobre Portfólio

Não tinha me dado conta da importância de um Portfólio em minha vida, pelo menos não nesse momento. Sou um acadêmico, aspirante a publicitário, devaneio um futuro platônico de redator, amo a cada dia que passa as letras, vivo em meio a elas, mas não produzo.
Preciso pensar.
Preciso criar horas para esses dias cada vez mais curtos e investir dores de cabeça na construção de um Portfólio – aquelas dores de cabeça que nos proporcionam as condições ideais para se pensar com finura, sabe?
Pois bem, a palestra da última sexta-feira me abriu os olhos. A professora nos fez viajar na história, mostrando-nos como surgiu, e o porquê do surgimento do Clube de Criação de São Paulo. No primeiro ano, o professor de Criação Publicitária nos deu a dica, pediu-nos para que víssemos ao menos o site, espiássemos o seu conteúdo, só para se ter em conta. O anuário do Clube me parece ser algo interessantíssimo, uma ferramenta de pesquisa quase que elementar, eu diria. Visto que ali se condensa o supra-sumo da propaganda no Brasil.
A professora nos mostrou alguns trabalhos, alguns portfólios on-line, de forma um tanto quanto atrapalhada, visto que o sinal de internet não contribuía, mas ela se saiu bem.  Professora da ESPM, lamento não ter conseguido anotar seu nome. Primeiro porque ela não se apresentou no início da palestra, segundo que necessitei sair antes do fim. Mas o que vi foi bom e importante.
Achei interessantíssima aquela história do equilíbrio das peças de um portfólio. Na verdade, ele é o meu produto, a agência o meu público alvo. Se eu pretendo alcançar a redação, preciso dar ênfase aos trabalhos textuais, fazendo-os sobressair às imagens. Elementar!
Pelo visto vem mais trabalho para o professor de Redação!
Aos poucos vamos construindo um Portfólio e dúvidas são tão frequentes nessas questões, quanto pizzarias em São Paulo!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Série Diário de Bordo - Aula do dia 20/04

Na última aula de Redação Publicitária, como na maioria das sextas-feiras, estava com fortes dores de cabeça. No entanto, elas logo foram amenizadas quando recebi a prova corrigida pelo professor.  Tirei, aliás, tiramos, eu e Juliana Cravo, minha namorada, uma boa nota.
            Depois de distribuir as provas e notas da média do bimestre, o professor nos passou uma atividade de estímulo à criatividade. Ao corrigir as provas, ele verificou que muitos alunos andavam mal das pernas em gramática, pelo menos foi isso que entendi; a atividade passada em aula nos fez continuar a escrever uma estória já iniciada e terminada, faltava um discorrer dos fatos. O intuito é verificar o grau da deficiência de escrita dos alunos.
            Meu relacionamento com a gramática não e lá dos melhores, mas também nunca tive sérias discussões com ela. Quando a chamamos na “xinxa” e a dominamos com pulso firme, ela fica mansinha, mansinha!

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Série Diário de Bordo - Aula do dia 30/03

           Não pude comparecer à aula de Redação Publicitária da última sexta-feira. Ao final de mais uma semana estimuladora de dores de cabeça pungentes, necessitei me refugiar. E acertei em cheio no lugar. Paraty, no estado do Rio de Janeiro: uma dose de cultura na veia.
            Mas já peguei o conteúdo, alguns colegas me falaram sobre a aula. Tava todo mundo um tanto quanto que paradões, como toda sexta-feira. Mais uma vez o professor tratou dos elementos textuais, da coesão do discurso. Bem, na verdade não entendi direito. Preciso buscar melhor sobre esse conteúdo.

domingo, 25 de março de 2012

Série Diário de Bordo. Do texto!


Série Diário de Bordo. Do texto.

            Enriquecimento. Tudo que se nos apresenta se estrutura enquanto linguagem. Todas as nossas apreensões, sejam estas oriundas do mundo ou de dentro de nós mesmo, são de caráter sensível e, portanto, nos causam impressão de sentimento, afrontamento e materialização e em seguida tradução dessa apreensão em signo.
            Tá, mas o que a fenomenologia, base dos estudos de semiótica, tem a ver com a última aula de Redação Publicitária?
O professor manifestou preocupação com o conteúdo de nosso texto, com o quanto o enriquecemos. E entendi que enriquecer não é adornar, mas sim carregar de significado. Tá aí a resposta.
            A apreensão de um texto publicitário deve ser traduzida pelo receptor e transformada num signo positivo para o produto. Como se, ao passo que se dê a leitura, se estruturasse junto uma ilustração de matizes definidas e, por sua vez, loquaz. Entrei em êxtase! Compreendi que, para tanto, é necessário banhar-se nas águas brandas da literatura, deixar bater no rosto a brisa fugaz da leitura prazerosa. É preciso muita referência para munir um texto de metáforas e adjetivos inerentes ao diferencial do produto.
            Pensei na seguinte situação: o detetive que precisa seguir as pistas deixadas pelo criminoso e, assim, capturá-lo e prendê-lo. Se o criminoso for o Curupira, não importa o quanto se sigam as pistas, o detetive estará sempre no caminho contrário. Se o criminoso for o Chico Anysio seriam necessárias cerca de 200 celas. Se o criminoso for o João Guimarães Rosa seria necessário se desprender dos sentidos, visto que todo crime seria como um neologismo, novo, coerente e eficaz.
            Mas se o criminoso fosse algo que se necessitasse vender, seria necessário um redator e metáforas que capturassem o seu diferencial e o entregasse a apreensão de seus necessitados.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Série Diário de Bordo - O Corpo do Texto

          Texto é texto. Na última sexta-feira, a aula de Redação Publicitária serviu para consolidar bastantes coisas na minha cabeça. Livre de dores de cabeça, consegui entender o lógico: redação é texto e, sendo texto publicitário, busca-se o convencimento. E convencer requer argumentação. Acabei recordando da Arte Retórica de Aristóteles que estabelece métodos de aplicação do discurso. Será que vamos estudar Aristóteles na aula de Redação? Seria interessantíssimo e eu ficaria feliz.
            Achei bacana casar o exercício desse conteúdo com a pesquisa da aula anterior, Título/ Chamada. Emprega-se uma linha de raciocínio. Opa! Raciocínio, lógica... Me emergiu, de novo, o Aristóteles do inconsciente!

segunda-feira, 12 de março de 2012

Série Diário de Bordo – Título (aula 09/03)

            Na última sexta-feira, dia nove de março, durante a aula de Redação Publicitária, sentia fortes dores de cabeça. Não que a dor fosse oriunda da aula, mas sim da semana desgastante e estressante. Mas, são os percalços pelo qual todo estudante, que também trabalha, deve transpor.
            Tal situação prejudicou um pouco a compreensão do conteúdo, no entanto o esforço do professor em fazer com que a classe compreendesse e a atividade ao fim da aula serviu para absorver bem a importância do Título ou Chamada de um texto publicitário num anúncio.
            Compreendi que existe um diálogo entre a chamada e a imagem, que pode ocorrer de três formas. Na mais simples delas, chamada e imagem se equivalem, o título é uma descrição da imagem; na segunda delas, imagem e título se complementam e na terceira existe uma relação não dependente entre esses dois itens de um anúncio, imagem e texto agregam valor, exprimindo assim, várias ideias ao receptor. Este último formato é típico dos grandes anúncios.  
            A atividade passada ao fim da aula, e a pesquisa feita nesse fim de semana me fez absorver e entender melhor cada tipo de anúncio. Estou muito feliz com o início desse ano, sinto-me cada vez mais capaz de analisar e constituir opinião sobre a minha profissão.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Redação Publicitária - Série Diário de Bordo

            Série Diário de Bordo.
Redação Publicitária.

            Persuasão. Teoricamente é tudo muito simples: um texto persuasivo, em essência, quer propagar uma ideia fazendo com que o receptor convença-se de que aquele conceito deve fazer parte de seu cotidiano. Tal conceito é forjado no fogo da argumentação concisa, coerente, criativa e verdadeira.
            Assim, podemos carregar nossa mensagem de dados, tabelas e, é claro, números para, quantitativamente, provar que a idea a ser propagada seja factível e aceitável. Ou, caricatura-lhe os benefícios, as proezas, as bem-aventuranças inerentes a essa ideia, objeto, conceito, dogma, pessoa, ou qualquer outra coisa – argumentar qualitativamente.
            Agora, expondo a minha mais sofrível e suspeita opinião – sofrível por conta destas modestas linhas e suspeita porque me parece que todos os textos, períodos ou palavras sejam dignos de irrefutável ceticismo – nada se compara a humanização do texto, ao discurso munido de sentimento que se faz instrumento etéreo do caráter humano, ou seja, a argumentação ideológica.
            Dos objetivos, os mais cínicos possíveis: inculcar a necessidade e propulsar a ação. Impelir o receptor/ consumidor à aquisição. Preferivelmente para agora e de maneira crônica, compulsiva e fiel.