De
tudo quanto já li e estudei, o 'existencialismo', me parece, é a mais certa das
teorias sobre o que pode ser tudo isso que somos e vivemos. E a mais perigosa.
E a mais iminente. Estamos na beirada, vislumbramos o abismo, prestes a
precipitar-nos no vazio pelo atrito da mais leve brisa. Esse abismo é uma
náusea coletiva onde a razão seria a mais bela loucura, pois sorveríamos apenas
a saliva áspera do concreto. Não esperaremos nada de coisa alguma e aceitaremos
como fugaz e efêmero todo tipo de comemoração ou felicidade. Esta já não é mais
um objetivo, mas uma droga, corruptora do estado natural de permanente vigília.
Sim, permanente porque necessitaremos sempre apalpar as coisas e sentir sua
existência. Nada de oráculos, seremos vazios demais e céticos demais. Já não
existirão deuses para embriagar a sociedade, porque até mesmo a essa não se
encontra sentido algum para existir. Nem a tantas fronteiras, nem a tantas
burocracias, nem a nada; só a nós e às nossas molas propulsoras, daremos vazão
as nossas angústias e saciaremos aos desejos mais recônditos. Aprimoraremos a
sexualidade, porque nós queremos ser livres para transar, queremos ser livres
para lançarmos-nos nos mais exagerados sodomitismos. O pecado é o grande
objetivo. Morte ao preenchimento por essência. Queremos construir um habitat de
acontecimentos. Ora, um acontecimento é algo difícil de obter; a existência,
portanto é hermética, intricada. Requer que saibamos jogar o jogo, que entremos
em seus campos e saibamos suas regras. Um acontecimento acontece por si mesmo,
é dotado de personalidade. Mas, droga, são efêmeros! Para viver e ser livre é necessário
fazer acontecer: acontecimentos em série (até mesmo oniscientemente)! Do
contrário, seremos apenas isso que sentimos. Sentir. O que são os sentimentos
perto do gozo?! Todas essas pulsões e complexos, precisamos fazer viver tudo
isso! Sim, precisamos dar vida a tudo o que é reprimido. Chega de tudo o que é
indefinido e vago!
Na beirada desse precipício precisaremos sentir constantes e tenros estampidos de fatos e concretudes, e gozo!
Na beirada desse precipício precisaremos sentir constantes e tenros estampidos de fatos e concretudes, e gozo!
Não
existe nada mais exuberante que um edifício. Edifícios têm razão de ser. E
todas as casas de uma cidade e suas ruas de concreto. Nós passamos por tudo o
que é cinza e duro, fazemo-nos acontecer e, em seguida, deixamos de viver
aquele instante para pular para outro, e outro, e outro... Mas o edifício
permanece rijo, bojudo, ostentador de sua existência que nos humilha.
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