Não
foi por acaso que me deparei com o romance “O túnel” do argentino Ernesto
Sabato. Eu precisava de algo em que respaldar a minha vida, em que embasá-la.
Após os primeiros capítulos forjou-se em fogo na minha alma a pergunta “E eu,
sou um túnel também?”.
Trata-se de um romance sólido, de
uma única grande metáfora: o existencialismo. Diante da perenidade da vida, o
enredo, ou melhor, a trama mostra-nos que em analogia à isso as pessoas e os
acontecimentos que se apresentam, mesmo os nossos próprios pensamentos e
raciocínios, são fugazes, são vagos, difíceis de se delinear, de empregar
forma.
Mas, não foi propriamente o romance
deste mestre argentino que me impulsionou a escrever este texto. Talvez o tenha
me engendrado a própria existência. A minha ideia fixa (já não consigo mais
chamar aos meus objetivos de ‘sonho’) é ser um escritor. Ser um escritor é a
minha ideia fixa, aquilo com o qual eu norteio os meus raciocínios quando a
minha cabeça parece ser um inferno, repleto de labaredas praguejantes,
ardentes, momentâneas, perdidas, facilmente substituídas. Pensamentos
impenetráveis aos outros. Minha personalidade se molda com uma facilidade que
espanta até a mim mesmo. São regidas por esses momentos de pura lógica
fantasiosa. Sim, sou um túnel como Juan Pablo, a personagem central do romance
de Sabato que, com uma habilidade de desconcertante clareza, nos abriu todas as
possibilidades de desenvolver o caráter psicológico de uma personagem. Fez-me
entender, de forma ridiculamente simples, a obra de Sartre, ou talvez seja
melhor dizer, a ideia fixa de Sartre!
Deus, tenho lido tantos bons livros!
Ótimos livros! Capazes de alegrar qualquer espírito. Mas me apego a obras obscuras,
de personagens solitários, que vivem sua solidão em meio ao asco das outras
existências; as ultrajantes existências da frivolidade e da fealdade hipócritas
dos seres humanos.
Acho melhor parar por aqui. Vou
deixar de me esclarecer essas coisas, porque assim, o máximo que consigo é
obscurecer as ideias dos poucos leitores deste blog. Aliás, começo a ter nojo deste
blog. É fruto da minha fealdade. Deus, não quero ter nojo da minha ideia
fixa... Mas, talvez seja necessário, seja o certo a fazer. O nojo é um
sentimento, o asco é o mais belo sentimento que um ser humano possa vir a ter.
O asco é um grande símbolo, sabiam? Quando você sente asco das suas atitudes,
dos seus trejeitos, das suas decisões, do seu estado de vida, você passa a ser
uma pessoa melhor. Sim, claro está. Uma pessoa boa e sem vaidades. É como ser
frígido, quando a excitação não aflora. A verdade é terrível, é tenebrosa! Como
é ruim ser sábio nos dias de hoje, ter a ciência de que viver em meio a
multidões requererá de você uma adesão à sua própria sabedoria é uma ideia
assustadora, aterradora, exasperante! É impossível ler tantos livros e viver
dignamente. Como o conseguiram tantos e tantos autores? Como puderam viver
tanto tempo, como conseguiram se sociabilizar?
Esse é o grande fado: o túnel!
Obrigado Ernesto Sabato!
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