segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

À Sabato


Não foi por acaso que me deparei com o romance “O túnel” do argentino Ernesto Sabato. Eu precisava de algo em que respaldar a minha vida, em que embasá-la. Após os primeiros capítulos forjou-se em fogo na minha alma a pergunta “E eu, sou um túnel também?”.
            Trata-se de um romance sólido, de uma única grande metáfora: o existencialismo. Diante da perenidade da vida, o enredo, ou melhor, a trama mostra-nos que em analogia à isso as pessoas e os acontecimentos que se apresentam, mesmo os nossos próprios pensamentos e raciocínios, são fugazes, são vagos, difíceis de se delinear, de empregar forma.
            Mas, não foi propriamente o romance deste mestre argentino que me impulsionou a escrever este texto. Talvez o tenha me engendrado a própria existência. A minha ideia fixa (já não consigo mais chamar aos meus objetivos de ‘sonho’) é ser um escritor. Ser um escritor é a minha ideia fixa, aquilo com o qual eu norteio os meus raciocínios quando a minha cabeça parece ser um inferno, repleto de labaredas praguejantes, ardentes, momentâneas, perdidas, facilmente substituídas. Pensamentos impenetráveis aos outros. Minha personalidade se molda com uma facilidade que espanta até a mim mesmo. São regidas por esses momentos de pura lógica fantasiosa. Sim, sou um túnel como Juan Pablo, a personagem central do romance de Sabato que, com uma habilidade de desconcertante clareza, nos abriu todas as possibilidades de desenvolver o caráter psicológico de uma personagem. Fez-me entender, de forma ridiculamente simples, a obra de Sartre, ou talvez seja melhor dizer, a ideia fixa de Sartre!
            Deus, tenho lido tantos bons livros! Ótimos livros! Capazes de alegrar qualquer espírito. Mas me apego a obras obscuras, de personagens solitários, que vivem sua solidão em meio ao asco das outras existências; as ultrajantes existências da frivolidade e da fealdade hipócritas dos seres humanos.
            Acho melhor parar por aqui. Vou deixar de me esclarecer essas coisas, porque assim, o máximo que consigo é obscurecer as ideias dos poucos leitores deste blog. Aliás, começo a ter nojo deste blog. É fruto da minha fealdade. Deus, não quero ter nojo da minha ideia fixa... Mas, talvez seja necessário, seja o certo a fazer. O nojo é um sentimento, o asco é o mais belo sentimento que um ser humano possa vir a ter. O asco é um grande símbolo, sabiam? Quando você sente asco das suas atitudes, dos seus trejeitos, das suas decisões, do seu estado de vida, você passa a ser uma pessoa melhor. Sim, claro está. Uma pessoa boa e sem vaidades. É como ser frígido, quando a excitação não aflora. A verdade é terrível, é tenebrosa! Como é ruim ser sábio nos dias de hoje, ter a ciência de que viver em meio a multidões requererá de você uma adesão à sua própria sabedoria é uma ideia assustadora, aterradora, exasperante! É impossível ler tantos livros e viver dignamente. Como o conseguiram tantos e tantos autores? Como puderam viver tanto tempo, como conseguiram se sociabilizar?
            Esse é o grande fado: o túnel!
            Obrigado Ernesto Sabato!

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