quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Construção do psiquê de um personagens em Suicídios Exemplares, de Enrique Vila Matas


Eu prefiro ler romances. São bojudos, lineares. Há quem prefira o conto. Eu também gosto de contos. Por esses dias deparei-me com “Suicídios Exemplares” de Vila Matas, autor espanhol. E gostei muito do que li. Existe em mim, e sobre isso já deixei um texto inteiro para dissecar o porquê, uma forte inclinação ao existencialismo, à náusea aparentemente refreada pela ideia que temos de quem somos por essa vida rarefeita, impressa aos borrões frígidos do estúpido. Do tesão, do prazer, da magnanimidade da vida não consigo dizer o contrário: são aparências.
            Mas, quero dizer do Vila Matas e seus personagens suicidas. Existe um misto de Borges e Sabato nos seus contos: um clima que devaneia entre o prosaico e o fatídico, entre a fantasia e a sua abstinência. Gosto de ler a literatura e enxergar a veia artística do escritor, perceber os meandros por qual adentram os seus raciocínios, destrinchar as alegorias e metáforas que criam seus enredos. E venho dizer, em alto e claro som, que seus contos são sim, de cunho existencialista. Salve Sartre! A linearidade aqui tem nome: fracasso. O ato de se suicidar é posto em evidência, como um elemento etéreo, revigorante, ideológico e, até mesmo, como representação de arte. As personagens, fracassadas, descongestionadas de interjeições, inferiorizadas pela vida, veem na morte um ato de liberdade, o único realmente livre. O suicídio é a negação do imperativo “viver”, é o lado sólido da vida.
            Quem gosta mesmo de literatura, se deliciará com os trâmites do autor em pintar a psique de suas personagens que caminha por referências inúmeras, até mesmo referências inexistentes.
            Não é uma apologia ao suicídio, trata-se de uma canção melancólica sobre a opressão de ter que viver!

3 comentários:

  1. Li Vila Matas há alguns anos! Em um primeiro momento senti traços que me agradam como a sua sútil ironia! Como fã incondicional de Borges, obviamente desse mundo imaginário que ele descreve e como trata a morte... e principalmente quando somos executores (ou não, como no seu texto) de tais ações! É falar do que não se fala! Fico feliz que tenha gostado e aqui compartilhado! Longa vida ao blog "Cru e Viscoso"!

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  2. Nestes últimos meses tenho lido muitos títulos de autores ibero americanos. E tenho notado muitos traços em comum. Os elos entre as línguas espanhola e portuguesa mostram-se ligadas na literatura por, principalmente, apelos e formas semelhantes. Tema para nossa conversa, hein?!
    Valeu por tudo!

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    1. Os traços culturais de uma língua trazem muito dessa cultura... tenho me aprofundado nessa observação!

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