quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Série Diário de Bordo: Jornada Cultural e palestra de Germano Pereira


          Hoje é quinta-feira e já se passaram três dias de Jornada Cultural na Faiter. Posso dizer, com uma certeza desconcertante, que tem sido melhor que a Semana de Comunicação do ano passado. A ideia, a organização, as palestras e workshopps foram pensadas muito bem. Pena tudo acontecer praticamente ao mesmo tempo!
            A palestra do Germano Pereira, na segunda-feira, muito me agradou! Muito por uma certa identificação: a angústia de escrever. Não que eu seja escritor, desses compulsivos, vorazes, que se desligam da galáxia e experimentam respirar em planetas “nunca dantes navegados”, como Vasco da Gama no Atlântico! Mas, justamente, pelo processo ler-escrever. Aqui uma coisa não se distingue da outra, se confundem, se misturam, se condensam e, no bojo das incansáveis leituras, na abundante pesquisa, na apaixonante viagem do conhecimento surge a necessidade, clara e manifesta - como uma pulsão freudiana no princípio do prazer -, de escrever, escrever, escrever. Germano, no seu palestrar, nos muniu de várias referências, justamente para poder assentar e embasar as suas próprias experiências e explicar os seus dilemas de escritor. Aconselhou-nos que, quando escrevêssemos, por favor, não parássemos; uma ideia é como luz de fogo produzido por madeira em brasa, é preciso se fazer madeira para não perder a luz desse fogo; escrever é se deixar arder; o insight é a consequência última da leitura abundante, desenfreada; o insight é fazer-se canal das suas próprias experiências...
            Hamlet-Bashô, peça adaptada por Germano, remonta muito bem esse processo. Trata-se de Hamlet em seu último momento, quando o fio preso às costas se desprende da vida. O rio de João Cabral de Melo Neto em Morte e Vida Severina se cristaliza e tudo o que passamos e experimentamos nos assoma à mente; e é nesse momento que a reflexão nos leva a ter uma segunda opção, a uma segunda decisão irrefreável que se desprende da realidade para, numa metafísica platônica se fazer ideal, perfeita. Escrever é estar nesse momento último da vida, numa adaptação da experiência adquirida.
            O Germano tem uma maneira de falar típica de ator, bem clara, comunicativa, expressiva... Gostaria de ter perguntado se o escritor de romances Germano, dentro desse processo de escrever, pára pra pensar no momento literário que vivemos, se se prende às características temáticas e estéticas dos escritores contemporâneos, ou se esses conceitos de escola literária já foram de todo esquecidos; se a Semana de Arte Moderna de 22 foi conclusiva no seu liberalismo às avessas; se não viveremos novos grandes momentos literários como um neorealismo ou um neossurrealismo ou qualquer outra nova onda de pensadores-poetas... mas, com medo de monopolizar esse momento de bate-papo com a galera, resolvi, em cima do que ele disse, me responder: “Leia, clame a ajuda de Buda, tenha um insight  e escreva, escreva, escreva... quem sabe...”?!

Um comentário:

  1. Eu tinha certeza que você iria gostar da palestra! Deveria ter feito sua ótima pergunta!

    Quem sabe você não consiga faze-lá em outra oportunidade?

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