terça-feira, 22 de março de 2011

Asséptico Mal

O produto do mal é apenas vivenciado, como se uma onda de resignação pairasse por sobre a opinião formadora de opinião.
O mundo é globalizado e Iluminista. Os franceses da Revolução rejubilam, onde quer que estejam, com as nossas falácias puramente “racionais”. Até mesmo a coreografia do assassinato deixou de ser preocupação pública e o romântico assassino é um personagem retrógrado.
Questiona-se a inviolabilidade da vida, mas o conceito dominante que nos foi pregado sobre esta é o de liberdade. Ora, a vida nos condiciona liberdade ou ela é dotada de liberdade?
O mal não tem mais dono, pois a nossa própria existência é precursora do mal. Antigamente acreditava-se em Deus e seus desígnios divinos, atribuindo-lhe o castigo merecido à humanidade, hoje “o mal é autosuficiente”, preservado de microorganismos patogênicos, limpo, asséptico.
A natureza nos massacra. Ela transformou o homem, ao passo que este verteu-se a si, pelas vísceras e vomitando em seguida, que a ciência da natureza e suas leis seriam amplamente dominadas por ele. A tecnologia, tão messianicamente cultuada pelo homem perdeu a voz com a resposta da natureza enquanto terremoto/ maremoto no Japão. Japão, a nação da famigerada tecnologia.

Ecoam-me os resmungos de vovó, o leitor assíduo lembrará daquela senhora ingênua do “Vômito 2010”.

Não quero dar ares apocalípticos a essas linhas, muito menos convertê-las em sermão. Chamo atenção ao nosso papel histórico, pois estamos deixando de ser sujeitos da ação. Se a vida não tem significado, se o mal é humanitariamente, ou politicamente justificado, se as minhas convicções são opulentas e repletas de preconceitos ocidentais então invertemos os papéis. Sou coadjuvante dos “fins que justificam os meios”.
Prefiro acreditar nos monstros do mar, que vara-verdeavam as pernas dos navegantes do século XIV. Prefiro acreditar no mundo fantástico da Fábrica de Chocolates, ou no maravilhoso mundo de Alice, pois ali a minha Literatura (deixem-me ousar dizer isso!) seria compreendida. Ampliar-me-ia nesse mar de criaturas dantescas e nessa terra de coelhos falantes só pelo bel prazer de “injustificar” os fins pelos meios. Assim o mal teria dono, eu.

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