quinta-feira, 3 de março de 2011

Pouco Lido em Obras Fúteis

Olá! Como este é o meu primeiro post no Blog, quero fazê-los conhecer-me.
Lembro a todos que a Literatura é o meu fígado, rins e pulmão, a imaginação é minha bexiga e coração! Portanto tudo que cuspo e urino e "doidera" total. Conheçam-me e voltem sempre. Lá vai!

Era o ano de mil novecentos e oitenta e nove. Vivia-se em constante expectativa. No Brasil, a democracia primogênita era motivo de orgulho da nação. Na Alemanha, caía com um muro a guerra velada, escondida, obscura. Disseminavam-se, sem medo, as ideias. Entrelaçavam-se as nações e o processo de globalização se intensificou ainda mais. O Afeganistão venceu a guerra, o Raul Seixas morreu, o Luís Gonzaga morreu, o Vasco da Gama foi campeão brasileiro, a Seleção venceu a Argentina na final da Copa América e a família Silva ficou maior. Nascia o autor dessas grosseiras linhas.
Os leitores mais cépticos enjoarão logo, aos mais afáveis acometerá um pesado sono. Mas lá vai, peço desde já a misericórdia de todos e principalmente de ti, professor.
Eu nasci sem muitas novidades. Dispensarei as exageradas dramaticidades do parto, pois ele foi complicado e complicações não são atrativas e não pertencem mais ao contemporâneo. Caso alguém queira saber, minha mãe está sempre disposta a contar detalhadamente a história do cordão umbilical me enforcando em seu ventre.
Eu cresci no bairro do Tucuruvi, na zona norte da cidade de São Paulo, “sentindo o puro ar da Cantareira”, como diz a canção. Filho de pais operários de sobrenome Silva, minha vida na infância transcorreu-se dentro dos padrões mais comuns do regime que derrubou o muro de Berlin lá no ano em que nasci. Futebol descalço na rua, esconde-esconde, queimada, polícia e ladrão, pião, pipas, bonecos do Jaspion e dos Pawer Rangers, carrinhos Ferrari e Lamborghini e muitos outros brinquedos e brincadeiras fizeram parte do meu mundo de criança.
Ocorreu-me aos cinco anos uma grave inflamação na garganta e foi então que passei pela minha primeira e única cirurgia. Tal enfermidade causou-me consideráveis mudanças na personalidade, pois no meu período de tratamento pré e pós-cirúrgico não podia me deliciar com um copo estupidamente gelado de Coca Cola, ou com um sorvete e, muito menos jogar bola descalço na rua. Sentia que todos apontavam pra mim e diziam “vejam aquele garoto que não pode fazer nada que seja legal”. Foi nessa época expressionista da minha infância que eu ganhei de meu pai um presente que mudou a minha vida, um livro. “A volta ao mundo em Oitenta Dias” do Júlio Verne, e é claro que eu, aos cinco, entendi pouca coisa da aventura, mas era legal ficar dizendo em voz alta as palavras das quais nunca tinha ouvido.
A pré-adolescência foi marcada, como no geral acontece, pelo surgimento das espinhas e a voluntariosa descoberta do poder do corpo. Foi quando percebi que o status de “mulher da minha vida” não estava restrito apenas à minha mãe, poderia sim, claro e transparente, dizer a qualquer menina “você é a mulher da minha vida”, em qualquer hora e a qualquer lugar.
Ler, ver e falar sobre futebol sempre foi uma paixão. Corinthiano de coração e alma preto e branco. Lembro-me como se fosse ontem cada detalhe da minha primeira visita ao Pacaembu para ver o Corinthians de Marcelinho Carioca jogar.
O período escolar é sempre o mais inesquecível, creio eu. Passa-se uma vida lá. Vê-se e ouve-se de tudo na escola. E comigo não foi diferente. Aprendi muita coisa que não deveria aprender e pouca do que realmente deveria, mas por mais metódico que fosse não conseguiria fazer diferente, afinal é “na escola que se aprende a viver”, dizia meu pai.
Foram-se os anos escolares, restava apenas o último ano do Ensino Médio e a dúvida fatal que me atormentava era qual carreira seguir. Afinal, não via em mim afinidade para nada. Tentei Matemática e desisti em poucos meses, Engenharia Ambiental também não me causou entusiasmos e fora outros cursos que quando não me agradavam simplesmente pegava as coisas e tomava o rumo do Tucuruvi.
Decidi pela área da comunicação. Sempre gostei de ler, escrever, passar muitas horas na internet... Quem sabe não valha à pena? No fim da minha vida acabarei sendo como um dos personagens do velho Machado de Assis mesmo, retrógrado. Todos seremos. Mas sendo do tipo “pouco lido em obras fúteis”, talvez um dia eu dê a minha própria volta ao mundo em oitenta dias e consiga escrever um livro, ou venda letras de samba pra viver. Quem sabe? O certo é que muitos muros de Berlin precisam ser derrubados!

Um comentário:

  1. No caso das coisas legais que você não pôde fazer, por conta da cirurgia, com você foi a coca-cola, comigo foi a cerveja. Não bebi o bastante para o álcool de viciar como faz normalmente, mas bebi o bastante para odiar o gosto. (Paulo Henrique G. Torres)

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