sexta-feira, 11 de março de 2011

Cru, Viscoso e Morto

            Morre de um tudo pelo mundo.
A voz do poder coletivo tenta se fazer ecoar no Oriente Médio, enquanto ditadores fantasiados de líderes populares deixam cair a fantasia déspota. No EUA Obama luta contra o bullyng, enquanto outros preconceitos matam mais gente. No Brasil a primeira “vitória” de Dilma acontece no fantástico mundo da Câmara e o dilema do Salário Mínimo (enquanto o crack mata 400 mil famílias). No Afeganistão as pessoas morrem (seja de morte matada, seja de morte morrida), enquanto a Al-Qaeda se mostra, impressionantemente, à quem das expectativas. Na Namíbia se morre de fome, de AIDS, de guerra civil, de tudo. Na Bolívia as pessoas continuam a urinar pelas ruas, na Venezuela também, mas tudo aparenta estar cheirando bem para os estadistas de lá. No Japão acontece o que todos os geólogos já previam: tremores, tsunamis e mais mortes. Morre vozes literárias filosóficas, Moacyr Scliar e Benedito Nunes (mais recentemente e em âmbito nacional).
            Antigamente me surpreendia com esse aspecto fúnebre das coisas, com a revelação da cor que tem essa tal de globalização, pálida, crua, viscosa. Hoje, me moldei à morte, ao fim natural das coisas, sejam essas táteis ou abstratas.
            Mas quem disse que a morte significa sempre o ponto final da vida e o trilhar triunfante do mal? Pode parecer clichê isso, mas o Brás Cubas uniu as duas pontas dessa história (perguntem ao Machado de Assis!).  É preciso morrer para viver (ou para se chegar ao real sentido da vida), eis aí um ensinamento que é cristão, judeu, islâmico, hinduísta...
            O Tempo é inviolável.
            As bactérias “nascem/brotam” se desenvolve, pára, declina arquejante e morre. Os sentimentos dos homens também.
A parafernália do homem-político, do sonho norte-americano, da ética nacionalista, da fantasiosa democracia íntima e coletiva, do valor do outro, da minha autocrítica, do pensar para existir, do bom selvagem, da utopia igualitária, do valor da mercadoria, do amor platônico, do pecado original e seu estigma social, ou seja, de tudo que é conceitual e meramente humano, morrerá.

E você, caro leitor, perdeu o dia lendo essas linhas tortas de um blogueiro kafikaniano, que troca flores por besouros escuros de dura carapaça na primavera, mas que formiga anseios capitalistas nas veias.
E o dia está quente hoje em São Paulo.

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